Por si, esta linha de
pensamento é absolutamente válida, desde que consigamos reflectir o
que se considera “Trabalho”.
Não vai longe o tempo em
que ser escritor ou pintor era (ainda é?) sinónimo de boémia e
liberdade das amarras inerentes às lógicas capitalistas de
“produtividade”.
Sobram, também, demasiados dedos de uma mão
ao contar as décadas que nos separam do tempo em que ser progenitor
era “actividade” exclusiva da Mulher e considerada razão máxima
da sua existência. Era uma (e única) actividade a tempo inteiro e
não era (tal como ainda não é) remunerada.
O papel de uma mãe ou
pai no desenvolvimento psico-social de uma criança será menos
importante que o papel desempenhado pelas e pelos profissionais de
educação?
Nem sequer está em causa o enriquecimento pessoal que
uma e outra actividade potenciam, dado que, enquanto mulheres e
homens de esquerda, não nos deve ser aceitável conceber o exercício
de uma qualquer actividade profissional que não seja motivada por um
alargado desejo pessoal. Isto é, aliás, um dos pontos que nos
separa dos entusiastas do neo-liberalismo, cuja máxima é a obtenção
de Capital (a qualquer custo).
Põe-se, então a questão
do que é o “Trabalho”?
O que o define e porque defendemos o
direito ao “Trabalho”?
É de vital importância
esta reflexão, num momento em que vemos cada vez mais direitos serem
subtraídos a que exerce actividades remuneradas; num momento em que
cada vez mais se “oferecem” estágios não-remunerados.
Nas últimas revisões da
legislação laboral, temos sido confrontados com a necessidade de
combater o retrocesso que nos apresentam no (des)equilíbrio da
relação empregador-trabalhador.
Actualmente, as excepções
ao trabalho precário não passam disso – excepções! Todas e
todos nós já fomos, somos ou conhecemos precários e
precárias.
Face à gravidade e brutalidade desta situação, só
podemos pensar mais além e discutir alternativas ao modelo selvagem
do lucro fácil, que cada vez mais procura reduzir os custos do
trabalho.
Pela premência da remuneração, assistimos
constantemente a situações escandalosas como a de turnos de
enfermagem que superam as 10 horas consecutivas e 8 dias consecutivos
de trabalho. O paradigma máximo da exploração do elo mais fraco –
o trabalhador – com a agravante de este ser um sector com 1500
novos profissionais desempregados por ano.
Este é, também, u dos
factores que contribui para a existência do papão “Crise”, em
nome do qual se restringem direitos, se reduz a força de trabalho e
se estagna o salário aos que se mantêm a laborar.
Esta visão a
curto prazo; esta tentativa vã de responder à diminuição da
procura leva a que, devido aos parcos rendimentos e devido à
instabilidade laboral, haja uma contenção de despesas por parte de
quem vive do preço do seu trabalho, alimentando esta bola de neve.
Baixos rendimentos, baixo consumo, baixo escoamento de stocks,
diminuição das margens de lucro… o resto, infelizmente, sabemos
como corre.
Uma resposta socialista
deve ser aquela que garante, a todos e todas, condições que
invertam esse ciclo, quer através de um rendimento monetário, quer
através de um plafond para aquisição de bens que se
considerem essenciais.
Antes, contudo, da
discussão do modelo, há que abrir campo à discussão do papel do
Trabalho na sociedade actual. Será ele edificante e modelador do
indivíduo, ou asfixiante e impeditivo do pleno desenvolvimento?
Pensamento de um Legionário.